quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Filosofia como “Arte de Pensar”. O Inquérito aos Alunos de Filosofia do Ensino Secundário

Um dos objectivos do Inquérito realizado na Faculdade de Filosofia aos alunos de Filosofia do Ensino Secundário consistia em identificar o que é que na Filosofia mais lhes despertava interesse. Curiosamente, das várias hipóteses apresentadas (a filosofia como arte de pensar, problemas do mundo actual, temática da argumentação, temática do conhecimento e da ciência, temática dos valores, coerência intelectual, história da filosofia), os alunos sublinharam o interesse pela Filosofia enquanto “arte de pensar”. Esta resposta surpreendeu-me e despertou a minha própria curiosidade, tendo-me colocado a mim mesmo a seguinte questão: num contexto de pós-modernidade, será legítimo ainda falar da Filosofia como arte de pensar? Será que o nosso panorama cultural nos permite olhar para a Filosofia de tal forma?
Mais do que simples palavreado, os resultados concretos mostram que a Filosofia como arte de pensar não é coisa do passado. O interesse pela Filosofia como uma forma de organizar o pensamento, manifesta a importância que ela tem, não só como uma disciplina escolar, mas sobretudo como uma forma de organizar um conjunto de realidades que não se restringem apenas a questões teóricas. A arte de pensar pode ser aplicada a várias áreas, desde sociais e políticas, à área do conhecimento, às questões éticas, só para citar algumas.
Muitas vezes ignoramos que podemos aplicar a estrutura mestra da filosofia como arte de pensar a outras áreas do saber humano. Assim, o olhar para a filosofia ganha outro sentido, e quando se dá a oportunidade aos alunos que se preparam para um curso universitário, seja ele qual for, de reflectirem de forma crítica sobre a sua maneira de olhar para a realidade, sobre a sua maneira de estruturar o pensamento, alcançam certamente uma ferramenta importante que eles levarão para as suas escolhas de vida e de profissão. O que quer dizer que a filosofia não se reduz à resolução dos problemas tradicionalmente conhecidos. Como arte de pensar ela amplia o horizonte dos alunos, permitindo-lhes uma maior capacidade de escolha. Fazê-los reflectir filosoficamente é proporcionar-lhes a oportunidade de serem autónomos.
Este inquérito patenteia a importância e a necessidade da filosofia para o nosso modo de olhar para a realidade. Todos nós sabemos da importância da ciência e de como veio revolucionar a nossa vida, para melhor. Porém, não deixa de ser curioso e preocupante o facto de, aos poucos, a Filosofia deixar de ter o seu lugar na sociedade. Vivemos num cenário em que a necessidade de explicação da origem das coisas parece desnecessário. Embora outras ciências se preocupem com a origem dos seus objectos de estudo, só a Filosofia se preocupa com a origem das coisas em geral, com as origens da estrutura da realidade por exemplo. Por isso, o papel da filosofia, como arte de pensar é de facto insubstituível, um papel essencialmente crítico que visa captar a estrutura da realidade, constituindo sempre um motivo de reflexão.
Texto de Higino Lombe, aluno de Filosofia da Universidade Católica, em estágio no Instituto Português da Juventude (Braga)

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