segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Televisão e atitude crítica / Estágio no Instituto Português da Juventude (Braga)

No dia 21 de Novembro de 2008 o Instituto Português da Juventude, delegação de Braga, organizou uma palestra sobre o tema "A televisão e a sociedade", proferida por João Vilaça, formado em Comunicação Social pela Universidade do Minho. A palestra foi integrada no âmbito da rubrica Hoje é Dia, e tinha como objectivo abordar a importância da televisão nos diversos âmbitos da vida social.
A rubrica Hoje é Dia é uma iniciativa que tem como objectivo divulgar, através de palestras temáticas as datas que marcam acontecimentos importantes. O dia mundial da televisão é uma dessas efemérides instituída pela Assembleia das Nações Unidas, em 1996.
Dada a especificidade do público a que esta palestra se dirigia - maioritariamente constituído pelos alunos do ensino secundário da escola Francisco Sanches - a actividade teve uma dinâmica especial, muito interactiva, com a participação directa dos alunos, através de um jogo de perguntas e respostas. O jogo consistia num conjunto de perguntas, às quais os alunos eram obrigados a responder em grupo, apresentando posteriormente os resultados à plateia. Porém, este momento era precedido da discussão do tema e da eleição de um representante com a função de apresentar as perguntas à plateia.
Devemos sublinhar que esta metodologia mais aberta e assente na participação está em verdadeira consonância com o espírito e a dinâmica das iniciativas típicas do Instituto Português da Juventude, organismo que desenvolve com muito êxito actividades de educação não formal. Estas actividades contribuem para a educação integral do homem, complementando e diversificando os conteúdos programáticos curriculares desenvolvidos na escola de um modo mais formal e sistemático. Esta metodologia aproxima-se daquilo a que muitos autores chamam mais propriamente de “modelo de animação”.
A animação pode ser implementada com sucesso tanto na educação formal como na educação não formal. É sua pretensão promover no educando um acréscimo de informação, de experiência e de consciencialização. Consciencializar é formar ou despertar a consciência de alguém para determinada facto. Neste caso o objectivo específico foi a consciencialização para a importância de uma atitude crítica quando se está diante da televisão. A televisão é um tema actual e inesgotável, transversal a diversas áreas, com grandes impactos na família e na sociedade, na educação e formação dos jovens, na comunicação, nas crenças e nos comportamentos. A sua importância agiganta-se quando se analisa e reflecte o seu impacto na maneira como as pessoas percepcionam e avaliam o mundo.
Enquanto fenómeno sociológico, a televisão é capaz de instaurar gostos e propensões, ou seja, de criar necessidade e tendências. Uma das tarefas da animação deverá consistir na consciencialização da sociedade do papel que a televisão tem para todos nós. Concretamente, deve mostrar que, apesar da sua importância incontornável, é necessário evitar um consumismo irracional e acrítico. Portanto, a questão da televisão não se esgota nos limites da análise sociológica, mas é também uma questão filosófica, ético-filosofica se quisermos.
É, sobretudo, perante o fenómeno da publicidade na televisão que a exigência da consciencialização do espectador se torna ainda mais premente. De facto, nem sempre a publicidade cumpre as normas éticas de respeito pela pessoa do espectador, colocando em risco a sua saúde mental e não só. A pessoa que se senta diante de um ecrã deve desenvolver uma participação activa ou de vigilância. “No instante em que alguém se senta diante da televisão acontece uma experiência bastante nova. Está-se diante de uma superfície branca e, no instante em que se apaga a luz, somos levados a esperar com todas as nossas forças algo que não se sabe ainda o que seja; e que, em todo o caso, é desejado e valorizado pela nossa tensão. A partir do momento em que se delineia a imagem e se desenvolve o discurso… existem varias possibilidades de empenho psicológico, que vão do discernimento crítico mais completo (a pessoa que se levanta e vai embora aborrecida), ao juízo crítico que acompanha a fruição, ao abandono inadvertido…”[1]. Porém, o que acontece frequentemente é que as possibilidades de uma tal vigilância crítica são reduzidas.
Foi esta questão da vigilância que mais interesse despertou nos alunos. O facto de tomarem consciência de que o discurso que a televisão passa nem sempre é imparcial e que pode estar dependente de interesses económicos e não só, provocará neles a reflexão e o interesse por aprofundar e desenvolver a sua actividade crítica.

[1] ECO, Humberto - Apocalípticos e Integrados. tradução de Helena Gubernatis, Lisboa, Difel, 1991, p. 368.

Texto elaborado por Higino Lombe, aluno de Filosofia da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, em estágio no Instituto Português da Juventude (Braga).

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